Nova Evangelização

Desde as origens a Igreja teve como missão explícita o anúncio do Evangelho (Boa Nova de Jesus) a todos os povos. Evangelizar queria assim dizer anunciar Jesus Cristo. A palavra evangelização só recentemente (há cerca de um século) começou a ser usada em documentos oficiais, com o sentido de anúncio inicial do evangelho.

O sentido da palavra foi evoluindo e desde meados dos anos 70 do século XX passou a referir-se "à maturidade da fé cristã, à plena transformação da vida por obra do evangelho." Hoje dizemos que todos precisamos de ser evangelizados na medida em que ainda não vivemos o evangelho a 100%.

A expressão "nova evangelização" aparece pela primeira vez num discurso de João Paulo II à Assembleia Plenária do Conselho Episcopal Latino-Americano em 1983: "A comemoração do meio milénio de evangelização terá o seu significado pleno se for um compromisso vosso como bispos, juntamente com o vosso presbitério e fiéis; compromisso não de reevangelização, mas de uma nova evangelização. Nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão."

Hoje é patente a necessidade de uma nova evangelização de todo o mundo que já se afirmou maioritariamente cristão: Europa e América. Esse é o empenho de toda a Igreja. Contudo, a grande questão é saber como é que se faz essa evangelização: que métodos e que expressão. O que se tem passado é que cada sector da Igreja tem entendido estes métodos e esta linguagem da Nova Evangelização de acordo com o seu modo de ver a própria Igreja e o mundo actual.

É neste contexto que surgiu o Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE - International Congress for a New Evangelisation) que vai decorrer em Lisboa de 5 a 13 de Novembro próximos. Este congresso partiu de uma iniciativa dos cardeais Christoph Schönborn (Viena), Jean-Marie Lustiger (Paris), José da Cruz Policarpo (Lisboa) e Godfried Danneels (Bruxelas). Estes tinham constatado que "A vida urbana parece favorecer uma paganização acelerada. Mas ao mesmo tempo surge uma procura religiosa cada vez mais forte, em relação ao próprio cristianismo, fonte da nossa cultura."

Na sequência das edições anteriores espera-se que este acontecimento tenha uma grande visibilidade em Lisboa mas não é claro até que ponto será capaz de anunciar de forma credível o evangelho àqueles que andam afastados da Igreja.

Um ponto delicado na evangelização é que a adesão a Jesus Cristo implica a vivência da fé em comunidade. Todo o projecto de Jesus visa a vivência de uma fraternidade universal que não pode ser construída mantendo cada um a sua fé ao nível privado. Ora se a Igreja institucional tomar atitudes que a tornam dificilmente aceitável para a maioria dos homens que pretende evangelizar, todo este esforço da Nova Evangelização pode acabar por ter apenas efeito para os de dentro.

Convém notar que as dificuldades causadas pela Igreja institucional não têm que ser um obstáculo absoluto à vivência do evangelho. Muitos católicos vivem integrados na Igreja, apesar do sofrimento causado pela hierarquia ao assumir o monopólio do poder. Acontece que pode ser mais difícil para quem vem de fora ir aceitando as imperfeições de uma instituição que também é humana. Contudo ao longo de dois mil anos a Igreja tem tido uma capacidade extraordinária de recuperar a pureza evangélica: basta ver o estado da Igreja no tempo de S. Francisco de Assis para se compreender que houve uma renovação notável. Esperemos que todos sejamos capazes de ser sensíveis ao Espírito de Deus de modo a que a Igreja seja cada vez mais o "povo que Deus reúne no mundo inteiro" (Catecismo IC 752).