novembro 26, 2005

A discussão é OuTrA

A discussão pública sobre o novo aeroporto da Ota tem andado à volta de duas questões em que o governo pode argumentar de forma razoável (embora discutível) e assim cria-se uma cortina de fumo que tem impedido a discussão essencial.

O crecimento do tráfego aéreo não deverá parar depois da Ota estar a funcionar. E o que vai acontecer a seguir? É simples: a Ota não pode ser expandida e dez anos depois da Ota começar a funcionar é preciso começar a planear outro aeroporto! O aeroporto da Portela terá funcionado durante 75 anos mas a Ota ficará esgotada em 20 anos!

Poderia pensar-se que a Ota significa uma construção tão barata que valia ainda assim a pena. Mas nem sequer é o caso. A construção na Ota é bastante cara (o local não é propriamente uma planície à espera de uma pista) e o aeroporto não será muito competitivo. A população de Lisboa, claro, terá não só que pagar tudo isso como começar depois a pagar o outro aeroporto.

O que faria sentido era ter a capacidade de escolher desde já um local onde fosse mais barato fazer as duas pistas necessárias para já e onde houvesse terrenos para ir depois aumentando e expandindo para quatro pistas.

Obrigar Lisboa a pagar dois aeroportos, um deles construído num local caro e o outro sabe-se lá onde, pode ser muito conveninete para quem vive da construção civil e dos negócios imobiliários, mas não torna nem a cidade nem o país mais competitivos.

Penso que o país sente que algo lhe escapa, mas tem faltado a capacidade de fazer frente ao festival de fumo do governo.