maio 11, 2006

Martini (I)

O cardeal Martini deu uma entrevista em que abordou alguns assuntos actuais da moral católica. Li a entrevista e encontrei nela aspectos "normais" e aspectos inovadores. Começo aqui por referir aquilo que me pareceu "normal". Num próximo post falarei do que me pareceu inovador.

Na questão do preservativo, o cardeal Martini encara-o apenas como um mal menor, a usar no caso de risco de infecção. Ora a maioria dos casais católicos (e muitos teólogos católicos) não vê nenhum problema ético sério no uso responsável da contracepção, desde que isso não tenha implícita uma atitude de recusa injustificada dos filhos. Mas esta atitude pode ser mantida também com os métodos de auto-observação, tão do gosto do Vaticano. Assim, a "abertura" do cardeal Martini soa a algo muito limitado (embora talvez fosse o possível no seu contexto).

A reacção do responsável do Conselho Pontifício para a família mostra até que ponto pode ir a rejeição da sexualidade por certos sectores da Igreja. Mas aqui há que, com Häring, ver o lado positivo: "Quanto mais extremistas forem esses todo-poderosos, menor será o número de seus seguidores."

Quanto ao aborto o cardeal Martini não põe em causa a sua imoralidade mas observa justamente que há situações que não é conveniente que o estado persiga penalmente, mantendo o esforço de diminuir os abortos e de impedir uma situação selvagem e arbitrária. A confusão entre a moral católica e as leis dos estados que certos sectores da Igreja pretendem implementar, mesmo à custa da humilhação dos políticos católicos, é, do meu ponto de vista, algo de profundamente errado pois descredibiliza a própria Igreja e pode contribuir para um renascer de um anticlericalismo primário. Creio que neste aspecto o cardeal Martini esteve bem.

5 Comments:

Blogger Manuel said...

Olá CA,
Desde os meus tempos de estudante que acompanho, com alguma regularidade, as intervençöes do Cardeal Martini.
Nunca o vi como representante da "ala ultra-reformista", como alguns lhe chamam. Mas tem sido sempre um homem que coloca a sua inteligência ao serviço de uma honesta busca de respostas no que toca ao papel e ao lugar da Igreja no mundo. Isso faz com que, com alguma frequência, apareça como defensor de ideias sensatas. E digo sensatas porque chamar-lhe arrojadas ou ultra-qualquer-coisa é claramente exagerado.
O que nunca deixa de me surpreender é que numa Igreja täo grande haja täo poucos "Martinis"...

11/5/06 20:08  
Blogger CA said...

Manuel

Acho que tens razão: fazem falta pessoas equilibradas. É bom que haja uns quantos mais arrojados (e há) e uns quantos mais conservadores (também há), mas a grande maioria devia ser constituída por estas pessoas sensatas. Ora estes não se fazem ouvir em geral.

11/5/06 21:47  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada CA por partilhares connosco a tua reflexão. Excelente!

11/5/06 23:14  
Blogger Confessionário said...

ahh granda cardeal... Concordo, e agradeço, porque não tinha lido. Fico à espera dos aspectos inovadores.

12/5/06 02:03  
Blogger Confessionário said...

mais uma... que me lembrei agora, em tom de brincadeira:


MARTINI MEN...

12/5/06 02:04  

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