março 18, 2006

As armas de destruição em massa

Que o ensino em Partugal não vai especialmente bem, não é novidade para ninguém. Contudo, algumas pessoas já identificaram a única causa: dentro do território existem umas perigosas armas de destruição em massa, globalmente designadas por "eduquês", que destroem tudo dentro do território.

Muitos dos que visitam o território, por vezes com funções de inspecção, garantem que essas armas não são assim tão abundantes nem são assim tão mortíferas, podendo mesmo ser facilmente interceptadas. Mas fora do território realça-se o perigo. Há diversos negociantes dessas perigosas armas que visitam regularmente esse território e até têm sido fotografadas peças que poderiam fazer parte de perigosas armas.

Aqueles que continuam a achar que o perigo não virá dali são normalmente acusados ou de estarem conluiados com os traficantes e compradores dessas armas ou de se terem deixado ingenuamente iludir por eles. Em contrapartida, repetir que as armas estão a ser instaladas em grande escala, que são altamente perigosas e defender uma intervenção armada para extirpar o mal é visto como uma prova de responsabilidade social, independentemente da qualidade da fundamentação apresentada.

Quando se discute planos para depois da intervenção armada nota-se que afinal ninguém tem propriamente um plano detalhado. Todos acham imperativo destruir o que está e depois logo se verá. Aparentemente uma grande maioria lembra-se de um antigo regime que poderia ser reinstaurado. Mas ninguém avaliou bem até que ponto seria possível instaurar de forma natural esse regime nos dias de hoje. Isso não seria problema desde que se tivesse um exército de ocupação no terreno. Questionar a disponibilidade e os custos de um exército de ocupação, altamente treinado mas mais para combater do que para policiar, é algo que poderá ser visto como estar do lado do inimigo, dos defensores dessas armas.

Embora uma intervenção armada não pareça próxima, a campanha pela guerra continua. E a história mostra que uma campanha continuada por uma guerra acaba por encontrar um momento em que alguém desencadeia essa guerra.

Depois da guerra, quem responde pelas suas consequências, pela destruição, pelos mortos e feridos, pelas injustiças, pelas oportunidades perdidas?

18 Comments:

Blogger /me said...

Que se pode então fazer, CA? (pergunto como quem quer mesmo saber)

19/3/06 11:32  
Blogger Orlando said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

19/3/06 16:12  
Blogger Orlando said...

Tem juízo!
Já reparaste que te limitas a trnansferir o onus da prova para o outro lado?
A qunatidade de informação contida no post é zero!

19/3/06 16:27  
Blogger CA said...

"Já reparaste que te limitas a trnansferir o onus da prova para o outro lado?"

Penso que o ónus da prova deve estar do lado de quem começa uma guerra.

"A qunatidade de informação contida no post é zero!"

O objectivo não era dar informação mas fazer um paralelo que ajudasse a reflectir.

Aliás, na maioria dos casos de ataques ao eduquês que conheço a realidade ou a informação sobre a realidade são uma coisa que não é minimamente tida em conta.

19/3/06 20:30  
Blogger CA said...

Me

Penso que a única solução passa por admitir que ninguém tem a solução toda e que todos têm algumas coisas importantes a dar. Digamos que quer os eduqueses quer os anti-eduqueses (normalmente ligados aos meios científicos) têm algo para vender a quem está no terreno. E sei que há muitos bons professores dispostos a comprar apenas o que há de melhor nos dois fornecedores. Só não estou de acordo com a estratégia de guerra que quer impedir os outros de vender seja o que for. A guerra pode ser boa para quem a faz mas de certeza não será boa para quem está no terreno.

Creio que os grandes problemas da educação têm a ver com o facto de o país não a levar a sério. O facilitismo vem de há muito, desde que os governos começaram a preocupar-se mais com as estatísticas para apresentar para fora do que com o que os alunos aprendem.

Na sociedade muita gente vê a escola mais como uma instituição onde se aprende a falar bem e que passa diplomas. Conhecer e compreender para poder agir é algo que normalmente não é associado à escola. Mas isto não vem do eduquês, vem do tempo em que ser doutor era mais um estatuto social do que outra coisa.

19/3/06 23:05  
Blogger Orlando said...

Andaste a ler o livro do Nuno Crato? é essa a motivação do teu post? Ainda não li. Parece que ele até apresenta uns factos, não?

20/3/06 14:55  
Blogger CA said...

ON

Não li o livro do Nuno Crato.

20/3/06 17:52  
Blogger /me said...

CA,

desculpa a ignorância, mas o que é o Eduquês?

21/3/06 09:25  
Blogger CA said...

/Me

O eduquês foi uma palavra inventada pelo antigo ministro da educação, David Justino, para se referir ao jargão técnico das Ciências da Educação. Tem um sentido pejorativo.

21/3/06 11:46  
Blogger CA said...

ON

Num extracto do livro do Nuno Crato para a imprensa publicado em:
http://www.filedu.com/ncratoeduques.pdf
pode ler-se:

"Em segundo lugar, este texto incide sobre as ideias expressas, mesmo que mal, e que traduzem influências que consideramos erróneas e prejudiciais. Não constitui um estudo empírico nem uma síntese dos resultados ou das influências práticas das ideias. Quando uma primeira versão deste trabalho foi apresentada publicamente, houve quem o acusasse de se limitar à retórica. Pois é de facto disso que aqui se trata."

Destaco a expressão "influências que consideramos erróneas e prejudiciais"; tem um sabor que conheço muito bem de outro contexto: as declarações oficiais da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, também conhaceida antigamente por Santa Inquisição.

21/3/06 11:57  
Anonymous Anónimo said...

Ó CA, só faltou dizeres que consideras as declarações da Santa Inquisição "influências erróneas e prejudiciais"... :)
O problema não está em criticar os outros, mas na fundamentação que suporta tal crítica. É aí que se deve colocar a atenção.

21/3/06 15:15  
Anonymous Anónimo said...

Para que não haja confusões, estava a referir-me ao caso concreto do Nuno Crato: cabe-nos avaliar da solidez dos seus argumentos para a crítica que faz ao eduquês. Se são sustentáveis, as suas teorias merecem consideração; senão...

21/3/06 15:20  
Blogger CA said...

A questão é saber quais as causas dos problemas do ensino e não quais as ideias do Nuno Crato.

O Nuno Crato assume claramente que quer discutir ideias sem levar em consideração a realidade ("Não constitui um estudo empírico nem uma síntese dos resultados ou das influências práticas das ideias.").

Parece-me que os maiores problemas da educação não são as ideias de algumas pessoas ligadas às Ciências da Educação. Acho muito bom que se queira discutir do ponto de vista filosófico as ideias de pedagogos e filósofos, mas isso vale o que vale.

21/3/06 15:45  
Blogger Orlando said...

O Nuno Crato não assume nada disso. O Nuno Crato não tem os meios necessários para proceder a uma análise que inclua trabalho de campo. Só quem possui essa capacidade é o ministerio. Sabemos quem manda lá.

Este post não é um post sério. E o assunto é muito sério. Limitas-te a fazer uma analogia. Não apresentas provas, não apresentas argumentos. Depois queres que vão discutir o assunto contigo apresentando provas e argumentos?

Deixa mas é de ser preguiçoso. ès capaz de fazer melhor do que isto.

24/3/06 22:12  
Blogger CA said...

ON

Este post é mesmo muito sério. É feito com a seriedade de quem conhece razoavelmente o terreno e tem andado nestas "guerras". Apenas acho que com estratégias fundamentalistas e belicosas só se consegue destruir e não se ganha nada. Em contrapartida tenho experiência de obter ganhos significativos com estratégias diplomáticas.

25/3/06 00:48  
Blogger Orlando said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

25/3/06 12:42  
Blogger Orlando said...

Estratégias diplomáticas, acho muito bem. Mas não me parece que seja este o local para ser só diplomata.

25/3/06 12:52  
Blogger CA said...

O problema não é que as minhas ideias não sejam valorizadas. Se estes ataques indiscriminados ao "eduquês" fizessem um ensino melhor, não haveria problemas.

Mas as ciências da educação são um mundo (onde há desde o muito bom ao muito mau) e os problemas do ensino em Portugal são um mundo ainda mais vasto (envolve as ciências da educação, as opções políticas e as ciências de base). O ataque às ciências da educação nos moldes em que tem sido feito corre o risco de deitar fora o bom junto com o mau e esconde completamente os outros problemas.

Para quem trabalha nas ciências de base é certamente confortável que a atenção e a responsabilidade estejam apenas no outro lado. Mas é apenas isso que queremos?

25/3/06 13:04  

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