"E os alunos amam-no?"

Bernhard Haring, um especialista em teologia moral, revolucionou o modo cristão de falar do amor, na segunda metade do século passado. Encontrei-o numa noite de Inverno num convento de Roma. Quando soube de onde vinha, perguntou-me por um aluno que era professor de Teologia em Lusaca: «E os alunos amam-no? É que se ensinar Teologia sem comunicar e sem fazer crescer o amor, o seu ensino será inútil!» Logo que acabou aquele breve encontro, apercebi-me de que me tinha encontrado não só com um grande teólogo que escreveu sobre justiça e paz, mas com um santo, uma pessoa que, com o empenho de toda uma vida, se habituou a pensar unicamente em termos de amor, testemunhando o Evangelho com total transparência. E compreendi porque é que à volta dos grandes santos floresceram tantas lendas: nascem da quase absoluta impossibilidade de fazer compreender aos outros como é que aquela pessoa nos tocou no mais profundo de nós mesmos, e então inventa-se uma história que torna o fenómeno compreensível.
11 Comments:
afinal o que é que ele revolucionou e como?
CA,
Obrigado pela dedicatória!
Quem me dera poder ser comparado a Bernhard Häring! Mas nem a brincar se admitiria tal veleidade.
Häring é um dos teólogos que se lêem com sofreguidäo.
Já no fim da sua vida, escreveu uns livrinhos pequeninos, mais desabafos de anciäo do que obras teológicas, que se lêem de um fôlego e que eu releio muitas vezes. ("Que padres para a Igreja" e "Última palavra de profeta", nomeadamente).
Abraço
Manuel
Algum desses livros é tradução do "Häring - Un'autobiografia a mo' di intervista" das Paoline? Li esse livro há pouco tempo e fiquei fascinado. De certo modo senti através da entrevista o mesmo de que fala o Renato Sesana: mais do que um teólogo trata-se de um santo.
ON
O Pe. Häring foi um dos mais importantes teólogos morais católicos do século XX. O que mais me marcou no que li dele foi o facto de procurar construir e teologia subordinada ao amor evangélico na vida e não caracterizar o amor a partir de uma teologia abstracta. A isso não é alheio o facto de Häring ter sido padre do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Häring procurou mudar a Igreja por dentro, foi um perito importante no Concílio Vaticano II, não se calou e teve que enfrentar a Congregação para a Doutrina da Fé. O seu processo foi depois encerrado sumariamente por João Paulo II.
O mais importante em homens como Häring (que em linguagem técnica se chamam santos) é a sua capacidade de revelarem Deus e de serem uma inspiração, muito para além do que seria expectável ou mensurável em termos humanos.
CA,
Passo por aqui e, com surpresa, vejo a dedicatória do post. Muito obrigado! Afinal meu blog ainda é uma criança! Mas recebo-a com muito carinho e reconhecimento por podermos fazer destes espaços lugares de debate teológica e eclesiologicamente democráticos. Creio que às "discussões recentes" de que falas, te referes, no meu caso, ao post sobre o "carreirismo". Confesso-te que não esperava aquelas reacções todas. Algumas até um pouco agressivas, mas o balanço foi muito positivo pois sairam coisas tão belas ali pela participação serena e sincera de tantos colegas padres e leigos.
Quanto ao tema deste post. Oh meu Deus! Haring, aquele velhinho adorável. Não tive o prazer de poder estar co ele, mas tive o privlégio de ser aluno por vários anos de um dos seus grandes discípulos: Marciano Vidal. Doeu o coração quando soube o que a Igreja 'rançosa' fez com este excelente professor da Univ. Comillas em Madrid, onde eu estudei teologia. Com Marciano Vidal bebi muito de Haring.
Abraço!
Ah! Vou linkarte! posso!?
Nasacris
Foi precisamente o teu post sobre o carreirismo que me fez lembrar Häring. Do que me recordo do livro, as palavras mais duras de Häring iam precisamente para o carreirismo na Igreja. E no livro ele falava de toda a sua vida.
"Ah! Vou linkarte! posso!? "
Sim, claro. Obrigado.
O Carreirismo na Igreja ja deu o que tinha a dar. Não são os carreiristas que ambicionam ser opinion makers. São os que dizem mal da Igreja. A pode ser positiva e nunca tive medo da critica. Nao suporto é os bota a baixo, que se elevam intelectualmente para analizar os outros. Armam-se em virgens impolutas, vitimas dos carreiristas.
Basta ver quem vende livros- Haring, Marciano Vidal etc.
Quem é o autor de teologia moral que fiel ao Magistério é conhecido? ABSOLUTAMENTE NENHUM.
É esse popularismo facil que me faz medo, porque as questões morais nao sao faceis, muitas vezes areia movediça, que temos de ir com muita calma para tentar nao errar.
Quais sao os livros que hoje se vendem mais? Todos os que apresentam a Igreja como um bando de velhos que procuram esconder um segredo... basta ver Dan Browm, O Evengelho de Judas etc.
COnfesso que ja me cansei dessa gente. Já penso por mim. Nem pelos Cardeais nem pelos Harings da Igreja. Mas por mim.
To
To
"Nao suporto é os bota a baixo, que se elevam intelectualmente para analizar os outros."
Está a referir-se aos processos do Santo Ofício que analisam os teólogos?
"Quem é o autor de teologia moral que fiel ao Magistério é conhecido? ABSOLUTAMENTE NENHUM."
Häring e Masiá, por exemplo. Que eu saiba nenhum deles foi condenado por infidelidade ao Magistério. A menos que só chame fiéis ao Magistério àqueles que se limitam a repetir o que vem nos documentos oficiais. Nesse caso é normal que não sejam conhecidos. Afinal, para conhecer a doutrina oficial, pego nos textos oficiais. O que me interessa é conhecer o pensamento daqueles que pensam pela própria cabeça, daqueles que se deixam inspirar pelo Espírito.
"É esse popularismo facil que me faz medo, porque as questões morais nao sao faceis, muitas vezes areia movediça, que temos de ir com muita calma para tentar nao errar."
Chamar "popularismo fácil" à atitude de teólogos que enfrentam processos desumanos do Santo Ofício por serem fiéis à sua consciência, não me parece uma caracterização adequada. Fácil é repetir sem pensar tudo o que a hierarquia diz. Só a hierarquia pensa que as questões morais são fáceis: tem sempre soluções imediatas e simples para tudo. Há teólogos que são perseguidos precisamente por acharem que as questões não são fáceis. Se a hierarquia fosse com mais calma nas questões difícies da sexualidade e da bioética erraria certamente muito menos.
Quanto ao cansaço, todos o sentimos num momento ou noutro da nossa vida. Mas somos chamados a procurar melhorar a Igreja.
Gostei dessa dos erros no que respeita à bioética...
Naturalmenye que qualquer cientista sabe mais de sagrada escritura do que a Igreja.
Não sei se sabe, mas o Santo Oficio já não Existe. Existe sim uma Congregação para a Doutrina da Fé. Bem me parecia que estava ainda no seculo XIX.
A igreja CA não é um conjunto de opiniões. É o Corpo de Cristo. Não a Faculdade de Ciencias de Lausane. A Igreja procura a salvação das almas. Quem perder a vida, ganha-la-á. Diz-lhe alguma coisa?
To
Tó
"Naturalmenye que qualquer cientista sabe mais de sagrada escritura do que a Igreja."
A que propósito vem esta frase?
"Não sei se sabe, mas o Santo Oficio já não Existe. Existe sim uma Congregação para a Doutrina da Fé. Bem me parecia que estava ainda no seculo XIX."
O que é importante não é o nome (conheço bem o nome oficial) mas sim os processos desumanos: um teólogo é denunciado e acusado sem ter direito a saber quem são os acusadores e não há um processo contraditório perante um juíz imparcial: a CDF promove o processo e depois julga ela própria o processo.
"A igreja CA não é um conjunto de opiniões. É o Corpo de Cristo."
Por isso não pode ser propriedade de uma minoria que põe e dispõe sem consideração pelos outros.
"Não a Faculdade de Ciencias de Lausane."
Esta não percebi.
"A Igreja procura a salvação das almas. Quem perder a vida, ganha-la-á. Diz-lhe alguma coisa?"
Sim, claro. Recorda-me de muitos que têm sido perseguidos dentro da Igreja por ouvirem a Deus mais do que aos homens.
Decerto que deve estar a falar de si mesmo/a...
Quando fala de minoria só pode mesmo.
Estamos de lados opostos da barricada... espero porem que entenda que a Luta não é contra a Igreja - nem pode ser. Tem de ser contra quem quer acabar com a Igreja. Com defeitos, com pecados, ela é o Corpo de Cristo. Sem ela fica a cultura dominante hedonista.
A questão é ou por Cristo ou contra Ele.
Boas Festas Pascais
Tó
Tó
"Estamos de lados opostos da barricada... "
Qual barricada?
"espero porem que entenda que a Luta não é contra a Igreja - nem pode ser. Tem de ser contra quem quer acabar com a Igreja."
Jesus não lutou com ninguém. Jesus só procurou salvar. Se a Igreja vive a pensar em lutar com os que a querem destruir, não precisa de mais nada para se destruir. Jesus anunciava a Boa Nova aos pobres; não gastava o tempo a pregar contra os que o queriam matar a ele; a esses oferecia também o amor de Deus.
"A questão é ou por Cristo ou contra Ele."
Mas ser por Cristo significa aprender com ele. E nunca o vi preocupado com "a cultura dominante hedonista". Falava mais de ricos e pobres, do amor, do Pai.
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