maio 13, 2006

Martini (II)

Voltando à entrevista do cardeal Martini, houve dois aspectos que passaram talvez despercebidos e que a mim me parecem muito positivos:

1) Sobre a fecundação heteróloga na PMA, o cardeal Martini exprime uma abordagem que penso que devia ser a regra para diversos aspectos morais e que infelizmente não é: "Parece-me que estamos naquelas zonas cinzentas de que falava acima, em que a maior probabilidade está ainda do lado da recusa da fecundação heteróloga, mas em que não é talvez oportuno exibir uma certeza que espera ainda confirmações e experiências."

Faz muita falta esta atitude de prudência aberta, que suspeita que algo pode não ser bom mas que reconhece que a avaliação moral dependerá sobretudo das consequências e que é preciso tempo para estudar essas consequências. Note-se como contrasta com os proponentes do referendo da PMA de que se fala por aí: estes pretendem já proibir na lei civil a fecundação heteróloga numa intromissão na vida privada dos casais, supostamente a defender as crianças, não se sabe bem do quê.

2) O cardeal Martini, cardeal da Igreja católica, disse o que pensava numa entrevista pública, e não se ralou muito com as posições oficiais. Esta é uma lição para todos nós: leigos, padres, bispos e cardeais. A Igreja sofre hoje também porque muitos daqueles que ocupam cargos hierárquicos se subordinam aos ditames do Vaticano sobre sexualidade e bioética em vez de mostrarem o que pensam. Ao nível dos bispos monsenhor Gaillot parece ser outra excepção. Que nos quadros de uma ditadura sejam poucos os que preferem dizer o que pensam até acho compreensível. Que nos dias de hoje muitos padres, bispos e cardeais repitam publicamente as posições oficiais, embora eles próprios estejam convencidos que as coisas não são assim, é algo que não compreendo muito bem.

5 Comments:

Blogger Orlando said...

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15/5/06 16:01  
Blogger Manuel said...

CA,
Pois... Mas o pobre do Jacques Gaillot, por dizer o que disse, foi parar ao limbo eclesiástico... (o que se revelou, aliás, de grande eficácia pastoral!)
Abraço

15/5/06 22:23  
Blogger CA said...

Manuel

E Jesus, onde foi parar por dizer o que disse?

Percebes porque é que digo que esta atitude de resguardo pessoal me parece menos compreensível em cristãos e sobretudo naqueles que se dispõem a seguir Jesus sem impedimentos?

15/5/06 22:52  
Blogger Orlando said...

E tu CA, comportas-te como Jesus?

16/5/06 13:57  
Blogger CA said...

On

Nem sempre, nem nunca.

16/5/06 17:09  

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