fevereiro 16, 2006

Ecclesia - católica ma non troppo

A agência Ecclesia noticia um colóquio sobre procriação medicamente assistida, organizado pela Associação dos Juristas Católicos. Mas ou saiu antes do fim ou esqueceu-se de dois dos oradores. Um deles, em particular, era o teólogo Pe. Jerónimo Trigo, professor da Universidade Católica.

O Pe. Jerónimo Trigo falou da contribuição que a ética teológica podia dar ao debate. Embora em geral se pense na teologia como algo uniforme, a teologia moral não é uniforme e precisamente por isso pode contribuir positivamente. Fez a distinção entre posição oficial da Igreja e dogma e falou dos pronunciamentos recentes da hierarquia portuguesa. Recordou que segundo o ensinamento oficial (Papa e Cúria) todas as técnicas de procriação "artificial" são recusadas. Esta censura moral geral deriva em parte da separação dos significados unitivo e procriativo de cada acto (como a censura da contracepção) e por isso abrange técnicas que não põem em causa a vida (como a inseminação artificial). Quer o Pe. Trigo quer o Prof. Renaud (filósofo) referiram as dificuldades desta fundamentação e o Pe. Trigo perguntou se esta era a medida alta da ética cristã.

Foi discutida a questão de saber se o embrião, que é vida humana, é ou não pessoa humana. O Prof. Renaud defendeu que sim enquanto o Pe. Trigo chamou a atenção para o facto de não existir uma posição oficial claramente definida sobre este assunto. Referiu que nem mesmo a encíclica "Evangelium vitae" resolveu o assunto.

Enquanto alguns dos presentes consideravam que depois das posições oficiais tomadas nada havia a discutir em termos de moral católica o Pe. Trigo referiu que documentos com a força de uma instrução ("Donum Vitae", por exemplo) não podiam ser considerados definitivos e que no passado existiram casos de encíclicas que se constatou que continham posições que tiveram que ser revistas.

Houve naturalmente acordo num ponto interessante: a decisão final de cada pessoa deve ser tomada perante a sua consciência. A consciência deve ser formada. O Pe. Trigo recordou que não se pode acusar de não ter formado devidamente a consciência todos aqueles cuja consciência lhes indica algo diferente das posições oficiais.

Discutiram-se ainda outras coisas. Pergunto-me apenas porque é que a agência oficial de notícias noticiou apenas a parte menos inesperada do colóquio, deixando de fora a riqueza do debate.

1 Comments:

Blogger maria said...

Ó CA,
porque será? Para já pode dizer-se que é bloqueio. Acredito que seja do jornalista da "ecclesia". Bloqueiozito mental.
Meu Deus, esta gente tem tanto medo de pecar, que acaba por não fazer o bem.

17/2/06 17:53  

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