junho 09, 2006

O caminho

Ao evocar esses dias de sonho e de esperança, lembro-me sempre daquele cartaz em que uma criança colocava um cravo no cano de uma espingarda. A carga simbólica desse cartaz é iniludível e vale a pena questionarmos: como cresceu aquela criança? Como crescem os milhares de crianças portuguesas? Será que estamos a tratar bem as novas gerações?

Cavaco Silva, Assembleia da República, 25 de Abril de 2006

O Presidente da República descobriu o que aconteceu à criança: vive em Londres. Será este o caminho que ele sugere aos jovens portugueses, mesmo trinta anos depois do 25 de Abril?

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

CA

Como dizia Camões, hoje é um bom dia para o recordarmos "um fraco Rei faz fraca a forte gente"

Sou das pessoas, poucas (?), que contestam a legitimidade do actual Governo, porque a legitimidade não vem só do voto mas do respeito pelos compromissos que levaram os votantes a confiarem em determinadas propostas. Aceitar que uma votação, por si só legitima toda a política de um governo, principalmente se tomadas ao invés das propostas que o levaram ao poder, é abrir caminho para a mais despudorada tirania. Será isso que está a acontecer em Portugal?

Parabéns pelo Blog. Espero a continuação do diálogo com Viseu. Apesar de o tempo não ser muito

A.F.

10/6/06 11:02  
Blogger abrunho said...

Eu acho que toda a gente, podendo, devia passar uma temporada fora do pais. Abria-vos os horizontes. Há muitas ideias feitas que sao ridiculas.

Paralelamente, parece-me bem que se alguém está mal muda-se e parece-me também bem que se alguém nao se quiser mudar, mas lutar pelo que acredita tambem o faça. Mas fazer mesmo algo, nao cantar de galo, lamentos e fado.

Esse menino nao foi obrigado a sair do pais, pareceu-lhe melhor, queria fazer um curso em 3 anos em vez de 5, fez uma vida em Inglaterra. Outros, nascem fora do pais, acabam em Portugal, fazem uma vida lá. Isto é como deve ser: movimento de pessoas a procurar o seu lugar.

10/6/06 16:45  
Blogger CA said...

Abrunho

"Abria-vos os horizontes. Há muitas ideias feitas que sao ridiculas."

Poderias explicar melhor, por favor?

10/6/06 19:04  
Blogger abrunho said...

CA,E

Eu dou exemplos:

1) Dinamarca: argumentaram comigo durante a PMA que a Dinamarca dá acesso no sistema público a mulheres solteiras para fazerem inseminação artificial. Portanto, o exemplo do país que atende os direitos das suas solteiras. Ao mesmo tempo elas não podem adoptar.

2) Alemanha: anda tudo muito admirado que 30% das mulheres alemãs em idade fértil decide não ter filhos. Na Alemanha é quase impossível uma mulher ter uma carreira profissional e ser mãe. Não só escolhos no mundo do trabalho, mas sociais. Uma mãe que deixa os filhos no infantário antes dos 3 anos e que decide ter um trabalho a tempo inteiro antes deles chegarem à adolescência é olhada de lado.

3) Alemanha: quem não conhece o documento PISA pensa que os alemães são sumamente bem preparados na escola. Esquecem-se de que isto é resultado de um esquema de selecção em que aos 10-11 anos os putos são separados entre: tu és bom, vais para a escola boa; tu és mais ou menos, vais para a escola mais ou menos; tu és sofrível, vais para a escola sofrível. Aos 11 anos!

4) Suécia: existem imensos suecos que estão em desemprego crónico, mas que não aparecem nas estatísticas porque estão numa suposta formação. Podes ir a bairros onde ninguém tem um trabalho.

Há sempre este umbiguismo lusitano que me chateia um bocado. "Isto só a nós, isto só a nós!". Até leio a tese dos nossos genes e se se estragaram depois dos descobrimentos. Não somos só nós, mas o futuro depende de nós. Se nos sentarmos debaixo do chaparro a pôr as culpas nos outros e a chorar, aí realmente só a nós. E mesmo assim...

12/6/06 10:13  
Blogger CA said...

Abrunho

Os problemas mais graves de Portugal não são propriamente os que referiste.

Um deles é o crescimento económico: Portugal está a divergir da Europa e as coisas não devem melhorar nos próximos anos. Um dos objectivos do país era chegar ao mesmo nível de rendimeto per capita da Europa.

Outro problema do país é a diferença entre os mais ricos e os mais pobres. Portugal está entre os piores neste aspecto. Não se vê como é que as coisas poderão melhorar.

No ensino, apenas 25% da população tem o ensino secundário. Que país país desenvolvido na Europa tem estes números tão maus?

Quanto ao ensino, as questões do Pisa e do eduquês são apenas folclore e não têm propriamente contribuído para melhorar o ensino.

Tudo isto está aqui por uma razão: hoje colhemos muito do que foi semeado entre 1985 e 1995. Aqueles que hoje nos querem dar ânimo são aqueles que construiram o Portugal actual. No ensino: guerra aos professores; na economia: betão e bancos ao poder; em geral: venha o dinheiro da Europa e gaste-se de qualquer modo, mesmo que de forma desonesta. Este sistema foi bem semeado e ultrapassou as fronteiras partidárias. É o que ainda hoje marca o país.

E continua a haver muitos portugueses (pobres e pouco qualificados) que emigram porque não têm qualquer perspectiva de um trabalho razoavelmente remunerado em Portugal. Não emigram por acharem que lá fora é o seu lugar. Também entre os melhores, continuamos a perder pessoas que não encontram um país suficientemente desenvolvido para se fixarem cá.

12/6/06 12:15  
Blogger abrunho said...

Onde é que eu discuti os problemas de Portugal?

Se queres expressar a emigração porque as pessoas não encontram um lugar neste país, acho que o menino do cravo não é o mais adequado.

O meu segundo enfoque: há emigração económica e há emigração porque se quer abrir os horizontes, porque há mais mundo para lá de Portugal. As pessoas parecem achar sempre que emigrar é um sinal mau, quando na Europa há já bastante gente que se movimenta livremente entre os países, não porque fujam de algo ou porque estão mal, mas porque aproveitam a liberdade que esta Europa lhes dá.

Era disto que eu falava. Pessoas que não põem os seus problemas nas costas do governo e dos outros. Irrita-me o lamento inconsequente. A culpa é sempre do governo e dos outros, os outros que são desonestos, os outros que não pagam impostos, os outros que não aprendem e os outros que não ensinam, os outros que são grunhos, os outros que vivem de subsídios, os outros que não produzem. Quando é que o outro é quem fala? Digamos que a minha paciência para a lamúria na blogosfera esgotou.

13/6/06 08:42  

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